quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Meu filho? Jamais!


Prêmio de melhor filme eleito pelo público e melhor filme nacional de ficção na Mostra de Cinema de SP em 2005, Quarta B (do diretor Marcelo Galvão) foi pouco divulgado na época de estréia, teve péssima bilheteria quando esteve em uma única sala de São Paulo em 2007, mas agora voltou - pena que somente por uma semana (até está sexta-feira dia 28/11) no HSBC Belas Artes . Acho que é pra não dar tempo da policia ficar sabendo, pois o filme é sobre um inusitado e chocante ocorrido na quarta série B de uma escola, aonde o faxineiro encontra um papelote recheado de maconha e para resolver o caso o diretor convoca uma reunião de pais em pleno domingo chuvoso para descobrir de quem é o tal carregamento. O que torna a situação surpreendente é que para desvendarem o caso, os pais resolvem fumar um baseado da droga pra chegar a uma conclusão.


Além da história, o filme é totalmente atípico e notamos isso já na direção de Galvão, câmera na mão tempo integral do filme que nos da a sensação de estarmos presente na sala de aula (aonde se passa todo o filme) participando da discussão, planos longos e cortes quase imperceptíveis e um desfecho(os) incomum, mas dai só vendo pra descobrir. O primeiro momento dramático do filme me chama a atenção, pois assim que o diretor revela o motivo da reunião dá-se inicio a uma troca de acusações entre os pais acusando o filho do outro e aqui todos os pais se colocam na defensiva com relação a suas crianças. Aqui, o filme encaixa um ponto dentro da narrativa anterior ao principal plot (de quem é o bagulho?), pois quando se trata de seu filho, ninguém desconfia e simplesmente diz: "não, meu filho não é assim", mas no fundo o pai não tem idéia do que o filho pensa e assim o molda de uma maneira até irreal e da maneira que ele quer que o filho seja .


Depois deste instante "anti-pais cegos", Galvão nos coloca na enrascada junto dos membros da reunião: fumar ou não? E assim o filme entra numa outra conversa, um pouco mais séria do que a historinha dos pais que comentei, agora a discussão vai pro nível da hipocrisia causada pela ilegalidade da droga da maconha. Essa discussão não é discarada e dialogada na reunião em si, mas fica nas entrelinhas dos diálogos e personagens revelando a intenção geral do filme. Pra finalizar, Galvão brinca bastante com a variação tonal da trama, há diversos instantes de tensão, humor e melancolia que ajudam na conclusão da obra Quarta B, que também conta com uma rica construção de personagens.
Quarta B
Aonde assistir (até 28/11): HSBC Belas Artes, Rua da Consolação, 2423


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