quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Crime e o cinema (intrigante).



Antes de contar sobre o curta internético que vi hoje, gostaria de refletir sobre um assunto que está em meus pensamentos, um assunto deste século que gera sempre novas discussões: A Internet como exibidora e divulgadora de produções audiovisuais. Cada vez mais encontro dentro da Internet páginas, espaços, blogs e links que divulgam e exibem filmes nacionais, seja de grandes produtores ou não. As salas de cinema estão sendo ameaçadas (desde o lançamento do YouTube em 2005) por uma leva enorme de produções totalmente voltadas para o público da Internet, esse é um assunto interessante e motivador para os novos e futuros produtores de conteúdos de áudio e vídeo. Os produtores encontram na internet o que os multiplex (exemplo: Cinemark e Kinoplex) e distribuidoras de filmes não proporcionam, um espaço para divulgação e exibição das obras nacioanais cinematográficas ou seriam internéticinematográf....vixi ainda não tem nem nome esse fenômeno.


Ontem assisti o curta A_ética, de Pablo Villaça, um crítico de cinema da revista SET e editor do site Cinema em Cena, Pablo assina a direção e o roteiro do curta que tem duração de 15 minutos. Assim que o filme começou me senti em uma situação cliché que existe em filmes policiais e de ação, um homem amarrado na cadeira e um outro em frente a ele representando o "badguy", ambos estão numa espécie de porão escuro, pouco se vê do ambiente, graças a iluminação assinada por Marco Aurélio Ribeiro. Não sei se é porque vi o filme no próprio blog de Pablo (com qualidade inferior como ele mesmo diz no site), mas a iluminação me incomodou bastante no início, porém ela fica mais interessante no andamento, ritmo e diálogo do filme. A vítima amarrada na cadeira não sabe o porque está naquela situação e fica com muito mais medo no decorrer da conversa com seu suposto sequestrador, que é o personagem mais interessante e misterioso do filme. O matador (como suponhamos) possui uma personalidade peculiar, já na primeira cena ele discursa para sua vítima sobre o que ele pensa da ética, como um professor que acredita muito no que está falando. Eles continuam a conversar e o diálogo fica mais intenso, a vítima quer saber o porque está lá e seu agressor responde de uma maneira até psicológica, brincando com a mente da vítima nos revelando estarmos diante de um criminoso minucioso, inteligente e bastante perigoso - beirando o psicopata. A história começa a ficar melhor a partir dos 11 minutos de filme, quase no seu final, o que nos traz de volta a história com muito mais vontade de entender o porque aquele cara está lá amarrado e sendo ameaçado e o desfecho nos revela um trama muito surpreendente e confesso que tive que voltar um pouco o filme (internet maravilhosa né?) para compreender por inteiro o final do curta. A sequência das cenas, que consistiu nesse curta em cortes dos planos entre vítima/agressor, não me pareceram muito bem conectadas, tive diversas vezes a sensação de que o corte quebrava um pouco a continuidade do drama e isso me tirou a apreensão, felizmente retomanda nos minutos finais.
Outra coisa que me chamou a atenção é que o curta me fez lembrar de diversos filmes que possuem conexão com a história de Pablo. Lembrei muito do filme O Homem do Ano, de José Henrique Fonseca, aonde a vida de um homem torna-se importante a partir do instante que ele vira sem querer um matador profissional super requisitado e a temática da ética me fez lembrar da trilogia de O Poderoso Chefão de Coppola, pois apesar da família Corleone ser uma organização criminosa, eles possuem uma crença de que o perfil de vida deles é baseado em valores familiares, aonde a ética nas atitudes conta muito para a sobrevivência do legado construído por eles. Claro que não podemos compreender essa ética, apropriada pelos criminosos como algo bom, mas como algo interessante, pois atitudes morais consideradas sujas pela sociedade podem ser utilizadas de maneiras diferentes nos levando a ter uma nova visão do crime. Uma visão que nos intriga, que nos confunde e que nos é estranha, mas contanto que esses sentimentos permaneçam no momento em que assistimos a filmes, OK, pois a função dos idealizadores do cinema estará cumprida - fazer os cinespectadores refletir diante de uma obra, discutir.
A_ÉTICA

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